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Dinâmica Social da Produção Urbana e Rural

Dinâmica Social da Produção Urbana e Rural

Universidade Federal Fluminense

Projeto Rio de Janeiro: Cenários atuais e Futuros

Resumo do texto: Terra de ninguém: urbanização, expropriação e ação política nos sertões cariocas. (Rio de Janeiro , 1950 - 1968)

Autor: Manoela Pedroza[1]

Fonte: www.filo.unt.edu.ar/centinti/cehim/jornadas_antrop/terra de ninguem urbanizacao expropriacao.pdf

Último dia de acesso: 19/08/2011

 

 

Palavras-chave: modernização, mobilização política, micro-escala, Rio de Janeiro-

Brasil.

Introdução

 

O objeto histórico de que tratarei neste artigo são os conflitos de terra acontecidos na Baixada Fluminense entre as décadas de 1950 e 60. Não é a toa que estes embates ocorreram justamente neste período. O intenso processo de êxodo rural, urbanização e industrialização da cidade do Rio de Janeiro gerou toda uma demanda imobiliária pelos territórios circunvizinhos ao centro da cidade, sobretudo nos sertões cariocas. Essa valorização imobiliária chegou com suas ameaças de despejo e/ou expropriando violentamente os antigos moradores da região.

Este processo rápido e violento possibilitou a mudança de áreas rurais “abandonadas” para a ‘Baixada Fluminense’ das cidades-dormitório que existe hoje, mas também a gerou a organização para resistência. Essa luta só foi efetivamente freada a partir do recrudescimento do golpe militar, em 1968. Antes, as peculiaridades desses dois processos – mobilização política e expropriação fundiária -- foram decisivas para conformar as estratégias de luta pela permanência e posse da terra nos sertões cariocas e seus resultados.

É fato que a vitória modernizadora/expropriadora na agricultura pode ser bastante exemplificada com o caso do estado do Rio de Janeiro, onde, hoje, 75% da população é classificada como urbana e o grau de urbanização geral está na ordem de 90%5.

Devido a efetiva e massiva expropriação fundiária resultante desse processo, percebo que se conformou uma memória bastante teleológica das lutas pela terra no campo fluminense, tanto nos meios militantes quanto acadêmicos.

Na análise dos processos de expropriação fundiária e mobilização política, na tentativa de ampliar o conhecimento acerca da capacidade sócio-política de pessoas que, localmente, colaboraram ou reagiram segundo suas estratégias pessoais ou familiares para a criação de novas identidades políticas e novos problemas legais e sociais, no seio da luta pela terra nos sertões cariocas desse período. Para fazer isso, é preciso transformar a visão de processo único em outra onde a transformação social se produz não porque “deus quis assim”, ou porque “esse é o caminho inevitável do progresso”.

Isso é a grande transformação social são fruto da ação e da reflexão de pessoas e grupos que, mesmo que não ajam projetando resultados mais amplos, e sim muitas vezes por interesses pessoais ou corporativos. A pesquisa parte da hipótese de que existe uma articulação estreita entre as opções microscópicas dos sujeitos com a construção dos macro-fenômenos, mas fazer essa ligação entre ações micro e resultado macro não é algo simples.

Se encararmos o devir dos sertões cariocas como uma construção não determinada a priori, mas forjada do embate entre esses agentes, se torna essencial para uma pesquisa desse tipo a reconstrução dos espaços de interação entre poder local, regional, central e agentes sociais conflitantes.

O processo de modernização capitalista pode ter, a partir dessas pessoas que resistiram a ele, uma versão muito mais violenta e menos fatalista do que comumente é desenhado naqueles “anos dourados”.

É necessário conseguir explicar essas mudanças levando em conta o papel ativo de sujeitos portadores dos mais diversos interesses, a partir de escolhas possíveis e redes sociais reais.

Foi possível perceber no emaranhado dos conflitos e também na sua repressão, que os agentes do Estado eram portadores de interesses que se combinavam. Também, que as combinações, alterações e reversões de decretos ou estratégias políticas oriundas de campos e agentes tão diferentes mostram o embaralhamento de lógicas sociais, que não pode ser simplificado totalmente pelo poder central para a aceitação passiva das camadas mais pobres em nível local. Mais ainda, que estratégias familiares e pessoais, dissensões locais e regionais puderam transformar ou mesmo brecar temporariamente o projeto urbanizador.

Gostaria de variar a escala e a metodologia de observação para complexificar esse processo histórico e ver como, num ambiente concreto, funcionaram as ‘leis gerais do desenvolvimento’. Por isso tudo é que considero pertinente a microanálise desse macrofenômeno.



[1] Manoela Pedroza é bacharel e licenciada em História pela UFF, em Niterói, mestra em História pela UFRGS, em Porto Alegre, e atualmente doutoranda em Ciências Sociais na UNICAMP, em Campinas. Quaisquer críticas ou sugestões sobre esse texto podem ser enviadas para manoelapedroza@terra.com.br.

OBS: O Artigo completo da presente resenha encontra-se no seguinte link:

www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/outros/4EncNacSobreMigracao/ST5-3.pdf