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CARACTERIZAÇÃO DO QUAQDRO NATURAL DO RJ 2

CARACTERIZAÇÃO DO QUAQDRO NATURAL DO RJ 2

Universidade Federal Fluminense

Projeto Geografia do Rio de Janeiro: Cenários atuais e futuros

Resumo do texto: Diagnóstico Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro

Autores: Marcelo Eduardo Dantas (Serviço Geológico do Brasil/CPRM), Edgar Shinzato (Serviço Geológico do Brasil/CPRM), Antônio Ivo M. Medina (Serviço Geológico do Brasil/CPRM), Cássio Roberto da Silva (Serviço Geológico do Brasil/CPRM), Jorge Pimentel (Serviço Geológico do Brasil/CPRM), José Francisco Lumbreras (Embrapa Solos), Sebastião Barreiros Calderano(Embrapa Solos), Amaury de Carvalho Filho (Embrapa Solos).

Fonte: www.cprm.gov.br/publique/media/artigo_geoambientalRJ.pdf

Último acesso: 21/09/2011 às 14:00h

 

Palavras-chaves:

 

Introdução

 

O diagnóstico geoambiental do estado do Rio Janeiro, produzido na escala de 1:500.000, visa identificar as grandes unidades geoambientais do estado, ressaltando suas potencialidades e limitações frente à intervenção humana e apontando as principais vocações sócio-econômicas de cada região e os principais problemas ambientais decorrentes de uma intervenção desordenada no território.

 

2) METODOLOGIA

 

Diversos métodos de análise integrada da estrutura e fisiologia da paisagem foram desenvolvidos nas últimas décadas, destacando-se as abordagens do Geossistema (Bertrand, 1972; Sotchava, 1977); da Geoecologia (Troll, 1966; Klink, 1974; Zonneveld, 1989) ou da Ecodinâmica (Tricart, 1977). No Brasil, diversos autores vêm desenvolvendo estudos em análise integrada da paisagem, com destaque para os trabalhos desenvolvidos por Coelho Netto (1992) e Monteiro (2001).

Na CPRM - Serviço Geológico do Brasil, o Departamento de Gestão Territorial - DEGET, através do Programa GATE (Programa de Informações para Gestão Territorial) tem desenvolvido, desde meados da década de 1990, uma metodologia de análise integrada da paisagem com enfoque diretamente aplicado ao planejamento territorial. Neste contexto, destaca-se o estudo pioneiro executado por Corrêa & Ramos (1995). Desde então, o Programa GATE vem produzindo diversos diagnósticos geoambientais, ora enfatizando os aspectos geológicos e geomorfológicos da paisagem (Theodorovicz et al., 1998), ora enfatizando os aspectos geomorfológicos e pedológicos e sua inter-relação com as outras variáveis do meio geobiofísico (Dantas et al., 2000).

Todavia, em todos os diagnósticos desenvolvidos ressalta-se a necessidade intrínseca de uma análise conjugada das seguintes variáveis que compõem o sistema geobiofísico: GEOLOGIA; GEOMORFOLOGIA; PEDOLOGIA; HIDROLOGIA; CLIMATOLOGIA; e BIOGEOGRAFIA. Assim sendo, pode-se delinear o mosaico de paisagens naturais. Permeando a toda esta análise do meio geobiofísico, avalia-se a intervenção humana sobre as distintas paisagens naturais.

O presente estudo inspirou-se, claramente, numa abordagem geoecológica, na qual o ecótono; ou unidade de paisagem; ou unidade geoambiental, é um produto singular da combinação de elementos geobiofísicos em constante dinâmica espacial e temporal.

A magnitude dos impactos ambientais frente às transformações induzidas (ou derivações antropogênicas – Monteiro, 2001) varia em função da natureza, intensidade e extensão das intervenções humanas e do grau de alteração antecedente imposto à paisagem promovendo assim, cumulativamente, uma degradação do meio físico, da biodiversidade e da qualidade de vida da população.

A classificação geoambiental aqui proposta possui uma hierarquia taxonômica. Nessa hierarquia, distingue-se como táxon superior os domínios geoambientais – individualizados pelos grandes compartimentos geológico- geomorfológicos. Em táxon inferior, são individualizadas as unidades geoambientais – definidas, em primeira instância, pelas unidades pedológicas e seguidas num nível de maior detalhe.

O processo de integração das informações foi realizado de através de avaliações multicriteriais, executada por uma equipe multidisciplinar e multi-institucional composta por geógrafos, geólogos, agrônomos e engenheiros, promovendo uma avaliação e reinterpretação dos dados temáticos.

Assim sendo, no contexto geológico, foram caracterizadas as unidades litoestratigráficas e feições estruturais que, quando associadas às características morfogenéticas dos terrenos, forneceram a base para a compartimentação morfoestrutural do Estado do Rio de Janeiro. Os solos foram caracterizados por classes dominantes e subdominantes em suas diversas associações. A vegetação primária foi correlacionada com os padrões pluviométricos na definição de uma caracterização climática. Os aspectos referentes à hidrogeologia, geoquímica, aptidão agrícola e recursos minerais foram acrescidos segundo a sobreposição de informações em cada unidade geoambiental.

 

3) RESULTADOS E DISCUSSÃO:

 

Domínio Geoambiental I – Faixa Litorânea

 

Corresponde ao mais extenso domínio geoambiental do estado, estendendo-se ao longo da linha de costa, desde a baixada de Sepetiba até a divisa com o Estado do Espírito Santo. Trata-se também, do domínio mais heterogêneo, abrangendo desde extensas áreas inundáveis, tais como mangues, brejos e baixadas até alinhamentos serranos isolados e maciços montanhosos que podem atingir cotas de até 1.000m de altitude.

Apesar de todas as diferenças internas, o fato desses terrenos estarem embutidos entre o litoral e sopé da escarpa da serra do Mar, permitiu agrupar todas as unidades relacionadas acima no Domínio Faixa Litorânea. Todavia, as diferenças são marcantes e, podemos subdividir a Faixa Litorânea em três subdomínios: a Região Metropolitana, a Região dos Lagos e o Litoral Leste Fluminense e Norte Fluminense.

A Região Metropolitana abrange as baixadas de Sepetiba, Guanabara e Jacarepaguá, de onde se sobressaem maciços montanhosos, tais como os maciços costeiros da Pedra Branca, Tijuca e Região dos Lagos ou o maciço intrusivo alcalino do Mendanha.

Na região metropolitana, situa-se o maior aglomerado urbano do estado e o segundo maior do país, com uma população superior a 10 milhões de habitantes. Os problemas ambientais decorrentes dessa concentração populacional são evidentes, sendo muitos terrenos urbanizados, inadequados para tal tipo de uso, tais como mangues e brejos, principalmente no entorno da baía de Guanabara. Contudo, importantes áreas de manguezais resistem à pressão urbana, tais como os do recôncavo das baías de Guanabara e Sepetiba. Igualmente ameaçada está a planície flúvio-lagunar de Jacarepaguá, devido à expansão urbana da Barra da Tijuca e Jacarepaguá. Tais terrenos, constituídos por Gleissolos e Solos Orgânicos e altamente suscetíveis a eventos de inundação são ocupados, geralmente por população de baixa renda, em decorrência de processos de segregação e exclusão social.

Entretanto, foram as baixadas mais bem drenadas e as planícies costeiras que sofreram expansão acelerada da malha urbano-industrial. Apesar desses tipos de terrenos serem mais apropriados a essa ocupação, os problemas ambientais também se sucedem, destacando-se a contaminação de rios, do lençol freático pouco profundo das lagunas costeiras e das baías.

Da mesma forma que a população de baixa renda foi “empurrada” para as áreas mais alagadas, também foi compelida a galgar as baixas vertentes de alta declividade dos alinhamentos serranos isolados e dos maciços montanhosos. Este cenário demonstra, de forma marcante, o crescimento acelerado e desordenado da metrópole nas últimas décadas, traduzido pelas “favelas cariocas”, e a ocupação urbana de terrenos claramente inadequados para tal uso.

Assim sendo, tanto os mangues e os brejos, quanto os terrenos montanhosos devem ser destinados prioritariamente para preservação ambiental dos ecossistemas remanescentes da mata atlântica e a recuperação das áreas degradadas.

Contudo, além da mata atlântica, os maciços costeiros apresentam também nos pontões rochosos, um tipo de vegetação composto por arbustos, bromélias e cactáceo, denominado de formações rupestres. Este tipo de ambiente é decorrente de uma quase ausência de uma capa de solo capaz de sustentar uma formação florestal.

No recôncavo das baixadas da Guanabara e de Sepetiba, próximo ao sopé da escarpa da serra do Mar, a ocupação urbana é mais incipiente. Nos baixos cursos dos rios Santana e Ribeirão das Lajes, no sopé da serra das Araras, as colinas isoladas e morrotes e morros baixos apresentam-se alinhados e bem mais dissecados, devido a um condicionamento estrutural mais expressivo, sendo, portanto, pouco indicados para ocupação intensiva.

No recôncavo das baixadas da Guanabara e de Sepetiba, próximo ao sopé da escarpa da serra do Mar, a ocupação urbana é mais incipiente. Predominam, nesse trecho, as planícies fluviais, colinas isoladas e morrotes e morros baixos. Nos baixos cursos dos rios Santana e Ribeirão das Lajes, no sopé da serra das Araras, as colinas isoladas e morrotes e morros baixos apresentam-se alinhados e bem mais dissecados, devido a um condicionamento estrutural mais expressivo, sendo, portanto, pouco indicados para ocupação intensiva.

A leste da Região Metropolitana situa-se a Região dos Lagos e o extenso relevo colinoso localizado entre a linha da costa e o sopé da serra do Mar, que se prolonga de Niterói até a baixada

Campista. A Região dos Lagos propriamente dita consiste de uma seqüência de planícies costeiras que se estendem de Maricá até o Parque Nacional de Jurubatiba, este localizado entre Macaé e Barra do Furado. Trata-se de extensos cordões arenosos de origem marinha, intercalados por depressões intercordões e recobertos por vegetação de restinga. No entorno da laguna de Araruama, é freqüente a ocorrência de salinas, muitas delas abandonadas, decorrentes da decadência da indústria salineira. Este conjunto de ambientes vem sendo fortemente impactados nos últimos 30 anos pela expansão imobiliária produzida pelo turismo de veraneio. A expansão acelerada de cidades, como Saquarema, Araruama, Arraial do Cabo Frio, Búzios, Rio das Ostras e Macaé, além de loteamentos indiscriminados, todos assentados sobre as planícies costeiras, acarretam em consideráveis danos ambientais, pois além da destruição da vegetação de restinga, promovem a contaminação das lagunas costeiras e do lençol freático, em locais de solos bastante permeáveis (Espodossolos Hidromórficos). Além disso, trata-se de uma área de escassa disponibilidade de água superficial ou subterrânea. A exploração de areia para construção civil, a ocupação de antigas salinas para empreendimentos imobiliários e o desmatamento da vegetação nativa sobre os campos de dunas, propicia a remobilização dos sedimentos por ação eólica, consistindo, também, em ameaças ao delicado equilíbrio ecológico desses terrenos. Deste modo, as áreas com remanescentes de vegetação de restinga, devem ser preservadas, cabendo apenas, exploração voltada para o ecoturismo.

Os terrenos colinosos de gradientes suaves e baixas amplitudes de relevo, situados à retaguarda dos cordões arenosos e das lagunas costeiras abrangem uma grande extensão da denominada “baixada Fluminense”, e possuem baixa suscetibilidade à erosão, sendo aproveitados apenas por pastagem, após a derrocada da citricultura na região nos anos 80. Estes terrenos, em grande parte constituídos por solos profundos e bem drenados (Latossolos e Argissolos Vermelho-Amarelos), são indicados para a introdução de sistemas agropastoris, associado com a recomposição florestal das cabeceiras de drenagem, visando um melhor aproveitamento econômico da região. Nas áreas mais próximas aos promontórios de Búzios e Arraial do Cabo e da planície costeira de Cabo Frio, a ocorrência de um clima mais seco, com precipitações anuais inferiores a 800 mm/ano, impõe a existência de solos menos espessos e poucos intemperizados (Argissolos Vermelhos), ou com excessivos teores de sódio (Planossolos Háplicos), o que implica em limitações para o uso e ocupação desses terrenos.

Destacam-se também, neste trecho da baixada Fluminense, os vales dos rios São João, Macaé, Macabu e Imbé, que consistem em extensas áreas inundáveis ladeadas por colinas isoladas pela sedimentação fluvial. Os baixos vales desses rios consistem de planícies flúviolagunares ou brejos, bastante inundáveis e aproveitáveis apenas para pecuária extensiva. Os médios cursos, formados por uma sedimentação fluvial e um pouco melhor drenados, são mais bem aproveitados para agricultura de várzea, desde que seja preservada a mata ciliar. A exploração de areia para construção civil com controle ambiental também é recomendada. Destacam-se também, contrafortes isolados evidenciados pelos maciços de Macaé e de Conceição de Macabu e pelo maciço de Itaoca, que devem ser destinados à preservação ambiental e recomposição florestal. Outras formações montanhosas merecem o mesmo tratamento, tais como o morro de São João, a serra de Sapiatiba e a ilha de Cabo Frio. Este último maciço montanhoso, assim como as colinas e morrotes isolados presentes nos promontórios de Arraial do Cabo e de Búzios, apresentam solos pouco espessos e pedregosos (Cambissolos e Argissolos Vermelhos), associados a uma vegetação nativa transicional entre floresta caducifólia e caatinga hipoxerófila. Este tipo de ambiente peculiar é decorrente do clima mais seco desta região e deve manter-se preservado, tendo em vista a expansão imobiliária empreendida na península de Búzios.

No Norte Fluminense, destaca-se a baixada Campista, que consiste de uma extensa planície deltaica, caracterizada por diversos ambientes deposicionais: destacam-se vastos depósitos flúvio-lagunares, ou brejos no entorno da lagoa Feia. Apresentam solos com altos teores sais e enxofre (Gleissolos Salinos e/ou Tiomórficos), sendo, portanto, altamente limitantes às atividades agropecuárias e devem manterse preservados, principalmente junto às lagunas e os banhados. Junto à foz do rio Paraíba do Sul desenvolve-se um sistema de cristas de cordões arenosos em linha de costa progradante, com características similares das planícies costeiras situadas na região dos Lagos. A baixada flúvio-deltaica construída pelo rio Paraíba do Sul, por sua vez, possui solos melhor drenados e bastante férteis (Neossolos e Cambissolos Flúvicos), adequados para a expansão das atividades agrícolas. Tradicionalmente ocupada pela decadente monocultura canavieira, a baixada Campista pode ser melhor aproveitada como um pólo de fruticultura, assim como os tabuleiros adjacentes. Esses tabuleiros, constituídos por sedimentos terciários, ocupam vastas porções dos municípios de Quissamã, Campos e São Francisco do Itabapoana, formando terrenos planos ou suave ondulados e solos profundos e bem drenados (Latossolos e Argissolos Amarelos). Apesar desses solos terem uma fertilidade natural baixa, são terrenos recomendados para expansão da agricultura irrigada, devido à baixa suscetibilidade à erosão.

 

Domínio Geoambiental II – Região Serrana

 

A escarpa da serra do Mar atravessa praticamente todo o território do estado do Rio de Janeiro numa direção WSW-ENE, acompanhando o “trend” estrutural do substrato geológico. Este escarpamento estende-se do litoral norte do estado de São Paulo, sob denominação local de serra da Bocaina até a serra do Imbé ou Desengano, às margens do rio Paraíba do Sul, próximo a Campos e São Fidélis, no Norte Fluminense. No reverso desta escarpa serrana, observam-se algumas zonas planálticas, de relevo montanhoso, tais como o planalto da Bocaina, o planalto reverso da Região Serrana e a própria serra do Desengano.

A escarpa da serra da Mantiqueira ocupa, em território fluminense, apenas um pequeno trecho, junto ao maciço alcalino do Itatiaia, separando o médio vale do rio Paraíba do Sul do planalto do Alto rio Grande, este em território mineiro.

Os escarpamentos, devido aos elevados gradientes de suas vertentes, amplitudes topográficas expressivas e ocorrência freqüente de depósitos de tálus, com baixa capacidade de carga, apresentam sérias limitações frente à ocupação humana. Devido a este fato, boa parte dos escarpamentos serranos apresenta ainda extensas áreas de mata atlântica ainda preservada, sendo algumas, protegidas por lei. Apenas nas suas baixas vertentes e em patamares estruturais, verifica-se uma efetiva ocupação desse tipo de terreno, por se tratarem, localmente, de áreas um pouco mais apropriadas. Curiosamente, o exíguo núcleo urbano de Engenheiro Paulo de Frontin situa-se num patamar estrutural da escarpa degradada da serra das Araras.

As escarpas serranas apresentam, em geral, solos pouco espessos e bastante lixiviados (Cambissolos e Latossolos Vermelho-Amarelos álicos), devido a um clima bastante úmido proporcionado pela barreira física imposta ao avanço dos sistemas frontais (efeito orográfico). Alguns

maciços intrusivos alcalinos também se situam no interior destes escarpamentos, formando picos mais elevados, tais como os maciços do Itatiaia, na serra da Mantiqueira e os maciços de Tinguá, Tanguá, Rio Bonito e Soarinho, estes na serra do Mar.

Todos esses terrenos, devido às características mencionadas acima, apresentam um alto potencial de ocorrência de movimentos de massa. Desta forma, estas áreas devem ser destinadas, salvo situações locais e específicas, à preservação ambiental e ao ecoturismo. Em trechos da serra do Mar, tais como a escarpa da serra das Araras, recomenda-se um esforço de recomposição da mata atlântica.

As zonas mais elevadas das escarpas serranas e das zonas montanhosas, constituídas por solos rasos ou paredões subverticais rochosos, evidentemente, devem ser mantidos preservados. Um caso peculiar registra-se no planalto do Itatiaia e, em menor escala, no planalto do Açu, entre Petrópolis e Teresópolis. Esses planaltos alçados a 2.200m de altitude possuem um clima excessivamente frio e solos muito rasos para o desenvolvimento da cobertura florestal. Nestes planaltos muito elevados, os terrenos são recobertos por campos de altitude.

O planalto reverso da Região Serrana apresentam também solos pouco espessos e lixiviados (Cambissolos e Latossolos Vermelho-Amarelos álicos) e um clima úmido e ameno, indicado para o turismo e o incremento do sistema agroflorestal. As atividades agrícolas, com destaque para a olericultura, ocupam as restritas planícies fluviais e as baixas vertentes menos declivosas do domínio montanhoso. Apenas o setor oriental do domínio montanhoso apresenta solos menos lixiviados, sob condições climáticas de menor umidade (Argissolos Vermelho- Amarelos e Vermelhos eutróficos).

Englobando neste domínio geoambiental, o litoral Sul Fluminense estende-se de Itaguaí até o limite com o estado de São de Paulo, em Parati. Compreende uma linha de costa recortada por costões rochosos, provenientes das abruptas vertentes da escarpa da serra da Bocaina e baías e enseadas que delineiam as baías de Sepetiba e da Ilha Grande. O contato do mar com a montanha e as planícies flúvio-marinhas onde se alternam estuários, restingas e manguezais configuram numa paisagem de grande beleza cênica e, ao mesmo tempo, de grande fragilidade física. Assim sendo, a ocupação das baixadas fluviais e flúvio-marinhas do litoral Sul Fluminense deve ser feita com planejamento adequado, visando à preservação dos ecossistemas locais e o assentamento das populações carentes em condições satisfatórias.

 

Domínio Geoambiental III – Planalto da Região Serrana

 

O planalto da Região Serrana situa-se imediatamente a norte do reverso montanhoso da serra do Mar, constitui-se de um relevo bastante movimentado, com declividades e amplitudes de relevo bastante inferiores aos do setor montanhoso adjacente, principalmente, à medida que esses terrenos se aproximam da calha do baixo-médio curso do rio Paraíba do Sul.

Esse domínio, que abrange localidades, como São José do Vale do Rio Preto, Duas Barras, Carmo, Cantagalo, Cordeiro e São Sebastião do Alto, consiste predominantemente de morros elevados e, subordinadamente, por colinas e morros baixos. É nítida a redução de umidade nestes terrenos, em direção a norte e a leste, marcada pela diferenciação de solos e da cobertura florestal original. Tanto o entorno de Carmo, como o baixo vale do rio Grande consistem em áreas menos úmidas desse planalto.

Esse conjunto de terrenos pode ser indicado tanto para atividades silvipastoris, nas mais secas, quanto para atividades agroflorestais, nas áreas mais úmidas, adjacentes ao domínio montanhoso. As vertentes mais íngremes e elevadas dos morros e “pães-de-açúcar” disseminados na região, assim como as cabeceiras de drenagem, devem ser destinadas à preservação e à recomposição florestal.

Entre a zona planáltica propriamente dita e a calha do rio Paraíba do Sul, estende-se à escarpa reversa do planalto da Região Serrana, com desnivelamentos entre 300 e 600 m, entre as localidades de Anta e Itaocara. A porção leste desse escarpamento termina com alinhamentos serranos que delimitam a depressão interplanáltica dos rios Negro e Pomba, e consistem de áreas produtoras de mármore para os pólos cimenteiros de Cantagalo, Cordeiro e Macuco. Esse conjunto de terrenos apresenta vertentes de fortes gradientes e alta suscetibilidade à erosão e movimentos de massa, estando agravado pelo estágio avançado de desmatamento em suas encostas. Recomenda-se para essas áreas a recomposição da mata nativa e o controle ambiental para a mineração de mármore.

Junto à calha do rio Paraíba do Sul, sobressaem-se um pequeno conjunto de colinas e morrotes alinhados fortemente condicionados pelo lineamento Além-Paraíba. Essa importante estrutura confere um padrão notavelmente retilíneo ao rio Paraíba do Sul, num trecho de aproximadamente 120km de extensão. Esta área expressa bem a configuração do graben do rio Paraíba do Sul. Aí, a suscetibilidade à erosão é significativa face à influência da zona de cisalhamento, a despeito de suas baixas amplitudes de relevo. O clima menos úmido nessa área favorece apenas atividades silvipastoris.

 

Domínio Geoambiental IV – Depressão do Médio Vale do Rio Paraíba do Sul

 

O médio vale do rio Paraíba do Sul consiste numa extensa depressão interplanáltica, ladeada pelo reverso da serra do Mar e pela escarpa da serra da Mantiqueira, entre as localidades de Três Rios e Eng. Passos e, estendendo-se a oeste, pelo Vale do Paraíba paulista. Essa região consiste, historicamente, na principal via de ligação entre Rio de Janeiro e São Paulo, sendo atravessada longitudinalmente pela Via Dutra. Portanto, devido à infra-estrutura existente e pela proximidade entre os dois maiores centros consumidores do país, desenvolveram-se importantes núcleos urbanoindustriais no médio Paraíba do Sul, com destaque para o pólo siderúrgico de Volta Redonda e o pólo metal-mecânico de Resende-Porto Real. Entretanto, o desenvolvimento urbano-industrial experimentado pela região promoveu uma série de problemas ambientais decorrentes do desenvolvimento econômico, sendo que dentre os mais impactantes, destaca-se a contaminação das águas superficiais por efluentes domésticos e industriais, principalmente no rio Paraíba do Sul. Esse tipo de impacto é bastante preocupante, pois coloca em questão não somente o abastecimento de água de vários municípios situados no médio Paraíba, como também a própria Região Metropolitana.

Todavia, a degradação ambiental do médio vale do rio Paraíba remonta ao início do século XIX quando praticamente toda a mata atlântica foi devastada para dar lugar a extensas plantações de café. A introdução de um período de estiagem no Médio Paraíba deve-se exclusivamente à retirada da cobertura florestal original e de seus efeitos de regulação térmica e de umidade, provenientes do sombreamento e da evapotranspiração. O desastre ambiental praticado no Médio Paraíba é de tal magnitude que, até os dias atuais, boa parte da região encontra-se estagnada.

O eixo do médio vale do rio Paraíba do Sul reflete um forte controle lito-estrutural assinalado pelo lineamento Além-Paraíba e pela tectônica extensional que resultou na geração de bacias sedimentares continentais, tais como as bacias de Resende e Volta Redonda. Nessas áreas estendemse as mais amplas planícies fluviais do rio Paraíba do Sul, com boa aptidão agrícola, devido a sua boa fertilidade natural (Neossolos Flúvicos e Cambissolos eutróficos), e também as colinas tabulares resultantes do modelado dos sedimentos e rochas Terciárias depositadas nessas bacias. O relevo plano ou suave ondulado das superfícies das bacias de Resende e Volta Redonda, em contraste com o relevo movimentado do “mar-de-morros” circundante, facilitou a instalação dos principais núcleos urbano-industriais do médio Paraíba.

Num trecho retilíneo que se estende de Três Rios à Barra Mansa, nota-se uma estreita e descontínua faixa de aproximadamente 5km de largura, caracterizada por colinas baixas e morrotes alinhados, com desnivelamentos inferiores a 50m (sempre na direção WSW-ENE), ladeados por colinas mais elevadas e morros baixos. Estes terrenos situados próximo à calha do rio Paraíba do Sul apresentam, em geral, solos Argissolos Vermelho-Amarelos e Vermelhos eutróficos, devido ao clima menos úmido nesta zona, com totais anuais entre 1.100 e 1.300 mm/ano. À medida que esses terrenos se aproximam do reverso da serra do Mar e ou dos alinhamentos serranos escalonados da serra da Mantiqueira, o clima torna-se mais úmido, com totais anuais entre 1.200 e 1.800mm/ano, propiciando a formação de solos mais profundos e lixiviados (Latossolos Vermelho-Amarelos álicos e Argissolos Vermelho-Amarelos latossólicos distróficos). Estes terrenos configuram o típico domínio de mar-de-morros do Vale do Paraíba. Estas vastas áreas largamente utilizadas para pecuária extensiva permitem o uso compartilhado de atividades silvipastoris, com atividades agroflorestais, priorizando as atividades agrícolas nos fundos de vales e baixas vertentes e recomposição florestal nas cabeceiras de drenagem e divisores principais.

            Entre os rios Paraíba do Sul e Preto, nota-se uma série de alinhamentos serranos escalonados, tais como as serras da Concórdia, do rio Bonito, da Charneca e das Abóboras. Devido às suas vertentes íngremes e alta suscetibilidade à erosão e de acordo com a disposição geográfica dos alinhamentos serranos, esses terrenos devem ser destinados à recomposição florestal. Além de proteger as nascentes dos principais tributários dos rios Paraíba do Sul e Preto, garantindo assim uma boa disponibilidade hídrica para a região.

 

Domínio Geoambiental V – Depressão do Norte-Noroeste Fluminense

 

O Norte-Noroeste Fluminense consiste numa vasta depressão interplanáltica, alternada com alinhamentos serranos escalonados e delimitada a sul, pelo planalto da Região Serrana e, a norte, pelo planalto Sul Capixaba e estende-se a oeste pela zona da mata mineira, com características um pouco similares. Esta região abrange a porção fluminense das bacias dos rios Pomba, Muriaé e Itabapoana e o baixo curso do rio Negro.

Em linhas gerais, o Norte-Noroeste Fluminense assemelha-se bastante com o Médio Vale do rio Paraíba do Sul, apresentando um extenso relevo colinoso, seccionado por freqüentes alinhamentos serranos de direção estrutural WSW-ENE e maciços montanhosos, cujo cenário é também marcado por pastagens sub-aproveitadas. A mata atlântica também foi devastada para implantação da monocultura cafeeira, já no início do século XX. Entretanto, algumas características singulares individualizam esse domínio do Médio Paraíba, em especial, o clima mais seco, com estiagem mais prolongada, com totais anuais entre 900 e 1.400 mm/ano e a menor suscetibilidade à erosão do relevo colinoso do Noroeste Fluminens.

As restritas e descontínuas planícies fluviais embutidas nos fundos de vales dos rios Pomba, Muriaé, Itabapoana e tributários principais, apresentam solos de boa fertilidade natural (Gleissolos e Planossolos eutróficos), adequados para agricultura irrigada. Entretanto, certas várzeas dos baixos cursos dos rios Paraíba do Sul e Pomba (próximo às localidades de São Fidélis e Santo Antônio de Pádua) e do rio Muriaé (Próximo à localidade de Italva) apresentam Neossolos Flúvicos salinos inadequados para agricultura. A origem destes solos salinos não pode ser marinha, pois o nível de base dessas planícies está acima dos máximos transgressivos registrados no Quaternário Superior. Possivelmente, sua origem está relacionada ao intemperismo do substrato rochoso, aliado à intensa insolação verificada na região, o que implicaria a precipitação de sais na matriz dos sedimentos aluviais.

A extensa região dominada por colinas, morrotes e morros baixos apresenta, em geral, Argissolos Vermelho-Amarelos e Vermelhos eutróficos, com moderada fertilidade natural, apesar da deficiência hídrica prolongada e o relevo movimentado constituírem importantes fatores limitantes às atividades agrícolas. Assim, essas áreas podem ter uma utilização compartilhada entre sistemas silvipastoris e agroflorestais, sendo que as atividades agrícolas com irrigação devem se restringir a vertentes menos íngremes das colinas, adjacentes às planícies.

Uma outra área de características singulares situa-se num polígono no entorno da cidade de Italva. Neste trecho de colinas e morros, a mata original era composta por floresta caducifólia, o que denota um elevado “stress” hídrico, no período de estiagem. Este fato decorre da baixa pluviosidade registrada (em torno de 1000 mm anuais) aliada à ocorrência de mármores, cujo intemperismo não favorece a formação de um espesso manto de alteração. Sendo assim, os solos são poucos espessos (Argissolos Vermelhos eutróficos), diminuindo, deste modo, a capacidade de armazenamento de água no solo.

Extensos alinhamentos de morrotes, tais como a serra da Portela (próximo a Cambuci e Itaocara) ou pequenos alinhamentos serranos, tais como a serra do Catete (próximo a Santo Antônio de Pádua) consiste de áreas com bom potencial para produção de mármore e rochas ornamentais, respectivamente. Esses terrenos estão, em boa parte, condicionados por extensas zonas de cisalhamento que atravessam o Noroeste Fluminense, conferindo, assim, um efetivo controle estrutural à formação das serras alinhadas, sempre orientadas na direção WSW-ENE.

Como essas áreas abrigam as nascentes dos principais tributários dos rios Pomba, Muriaé e Itabapoana, a recomposição florestal desses terrenos atende a duas funções importantes para a região: primeiramente, o retorno da mata atlântica propicia uma maior disponibilidade de água durante o período de estiagem, devido à proteção de nascentes e ao aumento da capacidade de armazenamento de água no solo; e a recomposição florestal nos alinhamentos serranos, assim como no Médio Vale do rio Paraíba do Sul, irá promover a formação de corredores de mata atlântica, em função da sua conformação geográfica, sendo de grande importância para manutenção e regeneração do ecossistema florestal.

 

Domínio Geoambiental VI – Planalto do Alto Itabapoana

 

O planalto do Alto Itabapoana, também denominado de planalto de Varre-Sai, situa-se também no Noroeste Fluminense, mas guarda íntima relação com a zona planáltica que abrange o sul do estado do Espírito Santo. Esse planalto, alçado a 700m de altitude, apresenta um clima mais úmido e ameno do que a extensa depressão adjacente e uma cobertura florestal um pouco mais preservada.

O relevo colinoso dominante é largamente utilizado por pastagens e pela cafeicultura. Essa cultura, que devastou o Vale do Paraíba, ainda tem importância econômica no planalto Sul Capixaba e algumas porções da zona da mata mineira. Devido a semelhanças físicas e climáticas com o Sul do Espírito Santo, a região de Varre-Sai consiste, atualmente, numa das mais importantes zonas produtoras de café no estado do Rio de Janeiro. As áreas de morros elevados apresentam um relevo bem mais movimentado que os terrenos colinosos, sendo portanto, menos indicada sua ocupação para atividades agropastoris.

 

4) CONSIDERAÇÕES FINAIS:

 

            A abordagem geoecológica demonstrou ser eficaz na compartimentação geobiofísica das grandes unidades de paisagem e na avaliação dos principais problemas ambientais decorrentes do processo histórico de intervenção humana no Estado do Rio de Janeiro. A análise integrada de variáveis do meio físico como: a Geologia; a Geomorfologia; a Pedologia; a Biogeografia; a Climatologia; e a Hidrologia, revelou-se imprescindível para a produção de um mapeamento que representasse a dinâmica ambiental em sua complexidade e tivesse aplicação para o planejamento territorial.

            Em termos gerais, o Estado apresenta graves problemas de ordem sócio-ambiental que precisam ser sanados, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida de sua população e, por outro lado, apresenta uma grande potencialidade de desenvolvimento sócio-econômico, baseado num planejamento ordenado, visando otimizar a implementação das atividades econômicas, conforme as potencialidades e limitações de cada unidade geoambiental em análise por este estudo.

           

5) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

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OBS: O artigo completo referente a este resumo encontra-se disponível no seguinte site:

teses.ufrj.br/fau_m/raphaelmarconi.pdf